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2 de novembro de 2019

2 de novembro de 2019 por Maria do Céu Barros comentários

Por Rui Faria

Falar de Braga na primeira metade de Seiscentos é retratar uma cidade impregnada do espírito contra reformista, onde não havia lugar à diferença no que toca ao rito oficial. As dinâmicas comerciais que se faziam sentir, remontam ao século anterior, enraizadas entre a comunidade cristã-nova. A exemplo de outras comunidades do país, algum do fervor religioso mais exacerbado que se vislumbra em Seiscentos, foi propagado por membros destas linhagens que a custo tentavam limpar a mácula no sangue, distanciando-se dos passados, sem nunca abandonar o espírito de sacrifício e a extraordinária capacidade para um incansável recomeçar, quase que inscrito nos genes dos perseguidos pelo Tribunal que se dizia Santo.

Um destes personagens foi Pedro de Aguiar, Familiar do Santo Ofício, descendente da comunidade sefardita bracarense, que, cansado de ver as perseguições a que eram sujeitos os infamados, alinhou no status quo e abraçou a empreitada de limpar a mácula de seu sangue. 

O singelo testemunho de Valério Pinto “homem que sabe todas as notícias antigas de Braga” refere que

na era de mil seiscentos e vinte até mil seiscentos e vinte e cinco houvera na cidade de Braga muitas prisões pelo Santo Ofício, e que por esse motivo as mais das pessoas limpas de infecta nação e possantes se meteram familiares do Santo Ofício e que um deles fora o dito Pedro de Aguiar. 

Mas desenganem-se os que pensam que Pedro renegou os seus, pelo contrário, diz-se que avisou «uns judeus muito ricos que fugissem tendo ele ordem do Santo Ofício para os prender».

De seu casamento, quis Deus que dos vários filhos nascidos nenhum sobrevivesse aos pais; como tal, Pedro de Aguiar, perseguindo o seu objetivo, investiu o capital amealhado de uma vida em obras pias. Fundou «o recolhimento das beatas do Campo de Santa Ana, que hoje são professas como consta da escritura feita a oito de maio de mil e seiscentos e trinta e um deixou vinte e cinco mil reis de renda cada ano ao Santíssimo Sacramento da Sé de Braga fez mais no hospital de Braga a Capela de São Marcos com trinta mil reis de renda cada ano como consta de um epitáfio que está no altar da dita capela que diz o seguinte: esta capela mandou fazer Pedro de Aguiar familiar do Santo Ofício mandou fazer a capela do Nascimento de Nossa Senhora à Branca, e nela rezam seis capelas e para tudo deixou rendas o dito Pedro de Aguiar e consta de um epitáfio que está no lado esquerdo da dita capela que diz esta capela do Nascimento do Senhor mandou fazer Pedro de Aguiar familiar do Santo Ofício faleceu o dito Pedro de Aguiar a vinte e cinco de dezembro de mil seiscentos e cinquenta e seis como consta do letreiro que se vê escrito na sua sepultura na mesma capela que diz aqui jaz Pedro de Aguiar familiar do Santo Ofício e deixou à Misericórdia de Braga muitos dinheiros que andam a juro e do procedido deixou que se casassem as órfãs que fossem suas parentas».

kwADBraga

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