O interesse da Paula nos artigos da autoria de Pedro de Azevedo, publicados no Archivo Historico Portuguez Vol. IX 1914 e Vol. X 1916, que existem na Biblioteca Municipal do Porto, chamaram-me a atenção para o interesse da sua divulgação junto de todos aqueles que investigam as suas origens familiares e que também nem sempre dispõem facilmente do acesso às fontes.
Os volumes onde foram publicados não estão disponíveis online, no entanto
podem ser consultadas aqui as fotocópias (pdf pesquisável) desses artigos de Pedro de Azevedo.
Estes
textos tratam de familiares do Santo Ofício, todos de Vila Real,
suspeitos de serem, ou descenderem, de cristãos-novos, com transcrições
parciais de processos consultados.
Da introdução feita pelo autor, ressaltamos, em grafia actualizada, o excerto seguinte:
"Em continuação das minhas pesquisas sobre a família do romancista
Camilo, compulsei grande número de processos dos familiares do Santo
Oficio, naturais e residentes de Vila Real e deles retirei o que havia sobre indivíduos recusados e suspeitos. Por estes processos vim a ganhar
a convicção de que o aparecimento numa família de familiares, cavaleiros
de ordens militares ou eclesiásticas, tanto seculares como regulares,
e de bacharéis em direito, não prova que ela fosse de origem cristã-velha.
Um comissário do Santo Oficio que se deixasse subornar por interesses
pessoais ou materiais podia dirigir o inquérito de forma que, um individuo
mais que suspeito no sangue fosse dado por limpo, o que é confirmado por
casos que se amontoam, quanto mais nos apartamos do século XVI, período
em que ainda estavam na lembrança as origens cristãs e judaicas de cada um.
Para aumentar a confusão sucede, que no século XVI e principio do
século XVII não havia disposição que proibisse a entrada nas ordens
religiosas e na nobreza a cristãos-novos e como mais tarde era ignorada esta circunstância, dava-se como prova da limpeza de sangue de uma
família a existência nela de eclesiásticos e cavaleiros.
A ciência ainda não tirou bem a limpo a questão da mestiçagem
de raças e a consequente mistura de qualidades a elas inerentes.
Quanto a Portugal, o que se pode afirmar, é que depois do século XV se
deu uma forte inquinação de sangue israelita, porque não tendo a Inquisição
destruído todos os hebreus aqui residentes em grande número, nem
tão pouco tendo eles emigrado em proporção notável, segue-se que aqui
ficaram aderindo de corpo e alma à religião cristã. Temos ainda hoje
entre nós algumas famílias notáveis que mal sonham na existência dos
seus orientais antepassados. Nos distritos orientais (Bragança e Guarda) ainda se conserva a lembrança de famílias puras e judias, porém no
resto do país já ela se obliterou.
Os extractos que fiz dos processos de habilitações de Vila Real provam
o que digo em geral."
Pedro de Azevedo
Do Archivo Historico Portuguez, estão digitalizados 4 volumes, disponíveis online através do archive.org:
Volume I - 1903 :
Volume IV - 1906 :
Volume V - 1907 :
Volume VI - 1908
kwADVilaReal
Publicado em: Cristãos-novos, Santo Ofício
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