Por Ana Pires
Esta senhora de olhar sério, mas doce, nasceu a 28 de Outubro de 1807 e
morreu a 11 de Abril de 1868. Do seu segundo casamento (12 de Dezembro de
1849) nasceu a minha bisavó Maria Libânia a 14 de Março de 1852, tinha minha
trisavó 44 anos!
Dela conheço unicamente duas histórias qual delas a mais
interessante e que não resisto a partilhar convosco.
No Outono de 1810 as tropas de Massena, logo depois da derrota do
Buçaco, continuaram em direcção a Lisboa. O alvoroço e o medo que
causaram varreu o centro de país como uma onda de destruição e
abandono. As pessoas pegavam no que tinham de mais precioso, nalguma
comida, e iam-se esconder em pedreiras, em grutas e furnas, nos
vales mais distantes das grandes rotas propícias ao avanço do
exército francês, enfim para qualquer lado onde se sentissem mais
seguras.
Foi assim que na precipitação da fuga, em Paínho (Figueiros -
Cadaval) a minha trisavó, então com 3 anos, foi deixada para trás.
Quando a família se deu conta era impossível retroceder e a menina
ficou entregue à sua sorte.
Quando as coisas acalmaram voltaram para casa onde a encontraram,
limpa, estimada, sem fome. "Nem os brincos de ouro lhe tiraram"...
(gosto de imaginar aquela menina, provavelmente bem vestida, talvez
com algum brinquedo, adormecida num qualquer canto da sua casa, e a
ser encontrada pelos soldados que nela reencontraram a sua
humanidade, e a trataram bem, alimentando-a, talvez mesmo
embalando-a e certificando-se de que não tinha frio enquanto
dormia...)
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A minha trisavó, Maria Libânia de Almeida, filha de Teotónio José Baptista da Mota e de Doroteia Libânia de Almeida Morais e Cunha d’Abreu Oliveira |
A menina fez-se senhora e casou. Desse casamento teve três filhas. Tinha a
mais velha 16 anos quando ficou viúva.
Passado um tempo, um moço bonito, bacharel em leis, começou a rondar e a
fazer-se encontrado com a viúva e as suas três filhas. Qualquer uma daquelas
meninas, já bem herdadas, eram um objectivo a considerar para um jovem
ambicioso, voluntarista e com pouco dinheiro.
A viúva, percebendo a situação - o rapaz não tinha fortuna, mas era doutor e
muito capaz - começou a insistir, sobretudo junto da mais velha, para que
considerasse as atenções do Dr. Julião. A moça, nada. "É muito velho minha
Mãe". Mas a Mãe não desarmava. E porque isto e porque aquilo, tão bem
apessoado... e a rapariga, fartinha daqueles sermões, lá lhe atira: "Minha
mãe, se o acha tão a seu gosto, case a minha mãe com ele!"
E foi o que ela fez , aos 42 anos tinha o noivo 28!!!
(adoro saber que tenho esta história inscrita nos meus genes!)
Este texto foi escrito e partilhado pela nossa amiga, Ana Pires, no grupo do
Facebook associado a este blogue. Estas duas histórias da sua História de
Família fizeram as delícias da nossa comunidade. Não poderíamos deixar de
publicar também aqui. Agradecemos à Ana Pires pela simpatia com que nos
autorizou a partilhar o seu texto com os nossos leitores.
Publicado em: mcb, Testemunhos
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