Os móveis e as roupas
Os móveis da casa eram escassos.
O estrado constituía uma peça comum, a zona de estar, nos paços ou nas casas remediadas. sobre os estrados, as esteiras e as almofadas onde pousavam ou se reclinavam os corpos, as mãos das mulheres na dança das agulhas ou do bordado. Nas paredes ricas, penduravam-se guadramecins no Verão, alcatifas no Inverno. E em quase todas as casas, painéis figuravam Cristo, Nossa Senhora ou os santos.
Em todas as casas a
cama constituía a peça fundamental, espaço da vida e da morte e também
aposento de receber e estar. A sua maior ou menor riqueza inculcava uma
distinção social, e as cortinas do leito, se serviam de aparato, tinham
também a função de resguardar, de olhos profanos, em casas superlotadas,
a intimidade do casal. Um leito dourado podia ascender a 16 000 réis,
isto é, tanto como o comer e dormir de um estudante por todo o ano.O
leito de pau-santo do doutor António Homem tinha botões dourados e
cortinas. O leito da irmã de Gabriel da Costa, Margarida da Costa, em
pau-brasil, marchetado de marfim, valeria uns 15 000 réis, tanto como a
tença régia de Luís de Camões.
Mas não era só o leito. Uma colcha
da Índia, de retrós, poderia valer 18 000 réis; um cobertor de grã com
barra de veludo 10 000 réis; umas cortinas de seda para o leito 16 000
réis. [...]
As roupas do corpo são poucas, algumas muito ricas.
Maria da Costa, do Porto, a irmã do nosso conhecido Gabriel da Costa,
usava um vestido de veludo preto e roxo com passamanes de ouro de 30000
réis e um vestido de damasco amarelo e roxo de 15 000. Emprestara uma
vasquinha para as festas de S. Roque nas Taipas. (As santas vestiam como
as burguesas ricas). Além dos vestidos, das vasquinhas, possuía dois
gibões, um de cetim verde com passamanes; 2 corpinhos de mal colchoado às
cores; um manto novo, um roupão; uma mantilha de veludo azul bordada a
ouro de 2000 réis; uma gargantilha de ouro de 6500 réis; 2 camisas, uma
de linho fino, outra de holanda com uma ceroula do mesmo tecido. (1)
[...]
(1) ANTT, Inquisição de Coimbra, Processo nº 5675
FONTE: António Borges Coelho,
Inquisição de Évora Dos primórdios a 1668 - vol. 2 - Caminho, Lisboa, 1987 pp. 25-27
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