Por Isabel Roma de Oliveira
Entrei na genealogia por acidente em 2005, quando morreram, no espaço de um mês, os meus avós paternos. Desse meu avô herdei inúmeros textos e fotografias, sendo que ele já guardava outros textos dos seus avôs. E assim comecei.
Quinta da Veiga, Padim da Graça
Entre inúmeras gavetas e baús encontrei um texto que fazia referência a uma casa cuja fotografia eu já conhecia. Era a Quinta da Veiga, casa dos avós maternos do meu avô, em Padim da Graça. Nessa casa passavam férias os filhos e os netos do casal José Dias Gomes Braga e Maria Amélia de Faria Couto Gomes Braga, meus trisavós. A fotografia parecia dum local idílico e a descrição acentuava o mito. Em 2006 aventurei-me à procura da casa. Fui a caminho de Braga, depois Tibães, Padim da Graça. Encontrei-a quase sem procurar, numa curva do caminho, um pouco mais “baixa”, porque o nível da estrada subiu bastante. Mas era a tal! Ainda se apresenta imponente, com uma grande fachada lateral, um portão frontal face à estrada e a famosa ramada. Imagino o que terá sido numa época em que a construção era mais escassa.
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(fotos: 1876/ 2006) |
Casa da Ribeira, Porto
A “mais alta casa de Cimo de Muro”, como toda a gente da família lhe chamava, era a casa dos avós paternos do meu avô paterno. Lá nasceram todos os 16 filhos dos meus trisavós. Lá nasceu o meu avô e os seus 2 irmãos. A casa tem estado toda a minha vida em frente aos meus olhos, mas nunca lá tinha entrado, até ao ano passado. Foi vendida depois da morte do meu bisavô, em 1961, e foi transformada num bloco de apartamentos. Recentemente foi novamente vendida e transformada num hostel. Quando me apercebi, marquei lá encontro com uma prima, trineta, como eu, dos primeiros donos. Pedimos permissão, explicando a nossa história, e visitámos, comovidas, uma casa cheia de memórias nossas, mas não vividas por nós!
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(fotos: c. 1860 / atualidade) |
Casa da Cisterna, Alfanzina, Lagoa
A Casa da Cisterna começou a ser construída em Maio de 1943, pelo avô materno da minha mãe, num terreno chamado Alfanzina. Originalmente, a parte de Alfanzina pertencente à nossa família, era dos bisavós do meu bisavô, que foi quem veio a herdar a propriedade.
Na empreitada de construção estiveram envolvidos dois pedreiros e o meu bisavô, na época com 33 anos, e que era o responsável por todos os trabalhos. No fim da obra foi ainda contratado um carpinteiro, para executar portas e janelas. Mas os trabalhos acabaram por envolver toda a família. O meu bisavô passou 6 meses a amassar barro, o que lhe valeu a alcunha de “Barrento”. Parte desse barro servia de cola às pedras (decorria a II Grande Guerra, pelo que não havia cimento em Portugal), outra parte era depois colocada em formas, pela mão da minha bisavó, e posta a secar, para fazer os tijolos. As paredes da casa chegavam a ter 50 cm de largura, o que tornava a casa muito fresca. A massa do reboco era uma mistura de cal e areia. No ano da construção toda a parte de trás da casa, virada a Nordeste, ficou rebocada e caiada. A frente ficou em bruto, com um reboco tosco, e só em 1958, aquando da construção do armazém, se aplicou o reboco final e se pintou com a característica cor azul-mar.
A família, à época constituída por pai, mãe e duas filhas, veio habitar a nova residência no final de Outubro de 1943, quando foi concluída a primeira fase da construção. Nessa altura a habitação era composta por uma casa de fora (divisão semelhante a um hall, mas maior e com outras funcionalidades), uma cozinha e um quarto, à direita. Frente à casa de fora surgia um corredor que ligava ao quarto principal e à sala de família, e que terminava na porta principal da casa, virada a sueste e ao mar. No telhado, com acesso pelo lado sudoeste, havia um sótão que servia de palheiro. No início de 1944 foi construída a alpendorada para a burra, o galinheiro e instalações para os coelhos, bem como um quarto de arrumos, que servia de armazém, e que ficava ao fundo da alpendorada. No ano de 1947, em Abril, construiu-se a cisterna. Em 1958, ano em que os meus avós se casaram, foi acrescentado à casa um armazém, no lado da estrada, o que permitiu transformar o quarto de arrumos noutro quarto de dormir. Em 1963 a casa adquiriu o aspeto com que permaneceria por muitos anos, com a construção do alpendre, onde ficava a casa de banho e o forno. A casa de banho era constituída por uma sanita (com ligação a uma pequena fossa) e por um chuveiro manual (basicamente composto por uma balde terminado em chuveiro, que se enchia com água fervida ao lume, elevava-se com a ajuda duma corda e abria-se e fechava-se com uma pequena manivela lateral; o escoamento da água do chuveiro era direta para a rua). Frente ao alpendre existiam ainda uma pocilga e uma estrumeira.
Quando o meu bisavô morreu, a 5 de maio de 1980, a minha bisavó ficou na casa. Como não existiam números de portas, algumas casas tinham nomes, para facilitar a identificação. A nossa casa não tinha... Por essa altura, o carteiro decidiu nomeá-la Casa da Cisterna, devido ao grande impacto que a cisterna de 1947, ao fundo do enorme eirado, causava em quem descia em direção à praia. Em todos os envelopes e postais vinha escrito, de lado, com letra tosca, o nome que a casa adquiriu. E nós passámos a dar a morada com o batismo do carteiro incluído! A 29 de Outubro de 1998 a minha bisavó morreu, sendo que a casa passou a pertencer aos meus avós. Em Julho de 2004 terminaram as obras de recuperação e ampliação. Este foi, e será para sempre, o meu paraíso!
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(fotos: 1956 / atualidade) |
kwADBraga, kwADPorto, kwADFaro
Publicado em: Espaços, Testemunhos
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