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9 de novembro de 2017

9 de novembro de 2017 por Maria do Céu Barros comentários
Da leitura de documentação antiga resultam, por vezes, algumas descobertas interessantes. É o caso da tomada de posse da igreja de S. João de Castelões pelo novo reitor Domingos de Sousa, registada em documento. Nele se descreve o ritual seguido nessa investidura. 


Missa de S. Gregório por Francisco de Campos - Séc. XVI (1560-1570) - Arquidiocese de Évora

Aos vinte e dois dias de Março, domingo de paixão, dominica passion, do ano presente de seiscentos e quarenta e três na igreja paroquial de São João de Castelões do termo da vila de Guimarães, me foi entregue umas bulas apostólicas de Sua Santidade, as quais beijei e pus na coroa da cabeça como filho obediente aos mandados apostólicos, e as preguei na porta principal da dita igreja matriz, e as publiquei, estando presentes a maior parte dos fregueses, e por verdade delas dei posse a Domingos de Sousa reitor novo, e a seu requerimento fiz o seguinte, e das testemunhas abaixo nomeadas, e logo ele reitor disse missa na dita igreja, tomando a dita posse dela, pondo as mãos nos cálices e pedras de ara e corporais e vestimentas, e livros, e galhetas e tomou as chaves nas suas mãos e abriu as portas e as fechou, e tangeu o sino, sendo vigário na dita igreja o padre Francisco Jorge com seu título ad nutum, o qual disse que não punha dúvida alguma a ele dito reitor a tomar posse, mas que protestava não prejudicar seu direito que tinha de vigário com seus títulos que tem, assim desta dita igreja como da igreja de São Pedro de Queimadela e meeira a esta igreja de são João de Castelões. Testemunhas Domingos Fernandes de Varzielas e João Jorge e Pedro Francisco e António Francisco, Domingos Gaspar, todos fregueses desta igreja de Castelões, e eu Ciprião Machado, vigário de Santa Cristina de Agrela, que esta posse dei a requerimento do dito Domingos de Sousa reitor novo hoje era ut supra.

Não é difícil imaginar o ritual através das palavras de Ciprião Machado; os beijos, as bulas na cabeça, o abrir e fechar de portas, o sino tangido e os objectos tocados, todo um comportamento que não deixava dúvidas, a presentes e futuros, de que a reitoria era agora sua. Numa época em que não eram ainda seguidas regras rigorosas para a realização e arquivamento de inquirições de genere (os habilitandos ficavam com os processos, que acabavam por se perder), estes documentos serviam também de prova de sacerdócio. Neste caso específico, 50 anos mais tarde, serviu de evidência da pureza de sangue da geração de um habilitando. A braços com um impedimento que lhe resultara da fama de ser cristão-novo, esgravatou arquivos à procura de comprovativos da cristã velhice da sua família. Assim, com este documento, «donde se deixa ver as falsidades do impedimento», não deveria a diocese duvidar da sua limpeza, uma vez que, na percepção da altura, nunca teria Domingos de Sousa sido aprovado para o sacerdócio se fosse cristão-novo. Sabemos que muitos cristãos-novos integraram, de facto, a hierarquia religiosa, mas isso é outra história...

kwADBraga
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