Sob o baixo-relevo de Teixeira
Lopes (pai) que evoca a tragédia, ocorrida precisamente naquele local a 29 de
Março de 1809, estão sempre velas acesas que intercedem pelo descanso eterno
dos homens, mulheres e crianças afogados no Douro quando tentavam fugir à
invasão francesa comandada pelo general Soult.
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Alminhas da Ponte (pormenor) - Baixo-relevo de Teixeira Lopes |
Era uma quarta-feira de Trevas, dia 29 de Março daquele ano de 1809…
Milhares de soldados franceses ,
sob o comando de Soult, depois de terem entrado em Portugal pela fronteira de
Chaves, tinham-se apoderado de Braga e aproximavam-se do Porto.
Dois séculos depois, existem diferentes opiniões sobre a
razão do desastre mas hoje deixo aqui duas versões de franceses, testemunhas
dos acontecimentos trágicos desse dia e que foram referidas na versão original
em francês ( deixo-vos com a minha tradução tant bien que mal...) por Jorge
Martins Ribeiro.
O primeiro relato faz parte das Memórias do General Soult, o
segundo é da autoria do cónego Noêl—Antoine Apuril du Pontreau, sacerdote
emigrado no Porto, de posições violentamente anti-napoléonicas.
1
O major Dauture chegou à ponte
do Douro, no momento em que os Portugueses procuravam cortá-la sob a protecção
da sua poderosa artilharia colocada na margem esquerda no convento da Serra.
Não havia um instante a
perder, ou a ponte estava perdida. Quando o Coronel Donnadieu e o Major Dauture
chegaram aí, encontraram-na pejada por mais de dois mil indivíduos de todas as
idades e sexos. No seu pânico eles tinham feito afundar um dos pontões e tinham
sido engolidos com ele. A cavalaria do bispo que
fugia no mesmo instante passava sobre os corpos dos desgraçados, esmagando-os
impiedosamente com as patas dos cavalos. Foi assim que ela conseguiu escapar-se
alguns momentos antes da chegada dos Franceses.
Os nossos soldados, mais
generosos, apressaram se a socorrer alguns dos afogados que davam ainda alguns
sinais de vida; outros para evitar marchar sobre eles colocaram pranchas nos
lados e passaram para lá da ponte, apesar do terrível canhoneio do inimigo.
A tomada da ponte era de uma
importância muito grande; reforços foram enviados ao coronel do 47° que os
dispôs habilmente para se apoderar do subúrbio de Vila Nova assim como da
margem esquerda do Douro.
2
Da mesma forma o medo e o
horror apoderaram-se dos cidadãos de qualquer estado , de qualquer sexo, de
qualquer idade que há pouco tranquilos nas suas casas confiando na bondade das
trincheiras e dos redutos e na multidão e bravura dos seus concidadãos saíram
em confusão das suas casas uma parte fugiu ao longo do rio para o Freixo,
muitos outros para Vila Nova
Dois homens robustos, no
começo da ponte da Ribeira, armados de lanças terminadas num ferro agudo,
ameaçaram matar quem quer que ousasse querer avançar, sob o pretexto de provavelmente querer impedir a emigração.
Então esta parte da ponte, sobrecarregada por un número demasiado considerável
de indivíduos quebra-se, desmorona-se afunda-se subitamente
A afluência era tão grande que
os de trás empurravam sempre para a frente, ignorando a ruptura da ponte e
desgraçadamente sem dar atenção aos gritos horrorosos e lamentáveis de
desespero dos que à vista de uma morte inevitável, se viam precipitados no rio!
Ah Grande Deus! … Oh! Dor!...
Em poucos minutos, três mil pessoas foram sepultadas sob as águas!!!
Que triste situação para estes
infortunados! Que espectáculo de horror terrível e lamentável para mim,
testemunha da minha janela de esta cena trágica, lúgubre e de desolação. Todo o
meu ser estremece ainda!
Além disso, para cúmulo da
desgraça, ao longo de Miragaia, na Porta Nova, na dos Banhos, o povo
lançando-se em multidão nos numerosos barcos que aí se encontravam ocasionou a
perda de uma infinidade de pessoas pela viragem de vários barcos
sobrecarregados. Cerca de três mil e seiscentas pessoas no total nesses
diversos lugares do rio, diz-se, pereceram assim miseravelmente.
Ah! infames jacobinos!
Mais de oito dias foram
ocupados a retirar da água esses milhares de cadáveres que entupiam essa parte
do leito do rio onde a corrente da água não se faz sentir, aliás detidos pelos
despojos dessa parte da ponte e por alguns cavalos da cavalaria inimiga que
foram também engolidos.
A ponte, neste triste momento
foi aberta no lugar da ponte-levadiça onde tinham tirado duas barcas no momento
em que o povo queria fugir. Já muitas pessoas estavam aí e várias se afogaram
lançando-se em vários barcos que aí se encontravam.
Publicado em: Invasões Francesas
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