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29 de março de 2020

29 de março de 2020 por Manuela Alves comentários
Sob o baixo-relevo de Teixeira Lopes (pai) que evoca a tragédia, ocorrida precisamente naquele local a 29 de Março de 1809, estão sempre velas acesas que intercedem pelo descanso eterno dos homens, mulheres e crianças afogados no Douro quando tentavam fugir à invasão francesa comandada pelo general Soult.


Alminhas da Ponte (pormenor) - Baixo-relevo de Teixeira Lopes

Era uma quarta-feira de Trevas, dia 29 de Março  daquele ano de 1809…
Milhares de soldados franceses , sob o comando de Soult, depois de terem entrado em Portugal pela fronteira de Chaves, tinham-se apoderado de Braga e aproximavam-se do Porto.
Dois séculos depois, existem diferentes opiniões sobre a razão do desastre mas hoje deixo aqui duas versões de franceses, testemunhas dos acontecimentos trágicos desse dia e que foram referidas na versão original em francês ( deixo-vos com a minha tradução tant bien que mal...) por Jorge Martins Ribeiro.
O primeiro relato faz parte das Memórias do General Soult, o segundo é da autoria do cónego Noêl—Antoine Apuril du Pontreau, sacerdote emigrado no Porto, de posições violentamente anti-napoléonicas.

1
O major Dauture chegou à ponte do Douro, no momento em que os Portugueses procuravam cortá-la sob a protecção da sua poderosa artilharia colocada na margem esquerda no convento da Serra.
Não havia um instante a perder, ou a ponte estava perdida. Quando o Coronel Donnadieu e o Major Dauture chegaram aí, encontraram-na pejada por mais de dois mil indivíduos de todas as idades e sexos. No seu pânico eles tinham feito afundar um dos pontões e tinham sido engolidos com ele. A cavalaria do bispo[1] que fugia no mesmo instante passava sobre os corpos dos desgraçados, esmagando-os impiedosamente com as patas dos cavalos. Foi assim que ela conseguiu escapar-se alguns momentos antes da chegada dos Franceses.
Os nossos soldados, mais generosos, apressaram se a socorrer alguns dos afogados que davam ainda alguns sinais de vida; outros para evitar marchar sobre eles colocaram pranchas nos lados e passaram para lá da ponte, apesar do terrível canhoneio do inimigo.
A tomada da ponte era de uma importância muito grande; reforços foram enviados ao coronel do 47° que os dispôs habilmente para se apoderar do subúrbio de Vila Nova assim como da margem esquerda do Douro.



2
Da mesma forma o medo e o horror apoderaram-se dos cidadãos de qualquer estado , de qualquer sexo, de qualquer idade que há pouco tranquilos nas suas casas confiando na bondade das trincheiras e dos redutos e na multidão e bravura dos seus concidadãos saíram em confusão das suas casas uma parte fugiu ao longo do rio para o Freixo, muitos outros para Vila Nova
Dois homens robustos, no começo da ponte da Ribeira, armados de lanças terminadas num ferro agudo, ameaçaram matar quem quer que ousasse querer avançar, sob o pretexto de  provavelmente querer impedir a emigração. Então esta parte da ponte, sobrecarregada por un número demasiado considerável de indivíduos quebra-se, desmorona-se afunda-se subitamente
A afluência era tão grande que os de trás empurravam sempre para a frente, ignorando a ruptura da ponte e desgraçadamente sem dar atenção aos gritos horrorosos e lamentáveis de desespero dos que à vista de uma morte inevitável, se viam precipitados no rio!
Ah Grande Deus! … Oh! Dor!... Em poucos minutos, três mil pessoas foram sepultadas sob as águas!!!
Que triste situação para estes infortunados! Que espectáculo de horror terrível e lamentável para mim, testemunha da minha janela de esta cena trágica, lúgubre e de desolação. Todo o meu ser estremece ainda!
Além disso, para cúmulo da desgraça, ao longo de Miragaia, na Porta Nova, na dos Banhos, o povo lançando-se em multidão nos numerosos barcos que aí se encontravam ocasionou a perda de uma infinidade de pessoas pela viragem de vários barcos sobrecarregados. Cerca de três mil e seiscentas pessoas no total nesses diversos lugares do rio, diz-se, pereceram assim miseravelmente.
Ah! infames jacobinos!
Mais de oito dias foram ocupados a retirar da água esses milhares de cadáveres que entupiam essa parte do leito do rio onde a corrente da água não se faz sentir, aliás detidos pelos despojos dessa parte da ponte e por alguns cavalos da cavalaria inimiga que foram também engolidos.
A ponte, neste triste momento foi aberta no lugar da ponte-levadiça onde tinham tirado duas barcas no momento em que o povo queria fugir. Já muitas pessoas estavam aí e várias se afogaram lançando-se em vários barcos que aí se encontravam.



[1]O Bispo do Porto, D. António de S. José e Castro, que na altura representava a autoridade, assumindo o cargo de comandante militar da defesa da cidade.

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