Foi com profunda tristeza que recebemos a notícia do falecimento da nossa querida amiga e co-fundadora deste blogue, Manuela Alves, no passado dia 9 de Maio.
Licenciada em História, Mestre pela Universidade do Minho, foi professora e autora de vários manuais escolares. Desenvolveu e colaborou em diversos projectos relacionados não só com Genealogia, mas também com a História da sua cidade. Portuense de corpo e alma, orgulhava-se da sua ascendência minhota, à qual atribuía a sua faceta combativa, onde tivemos o gosto de encontrar ascendentes comuns.
A partida da Manuela deixa-nos muitas memórias que guardamos com muito carinho. Frequentemente, quando revisitávamos o início deste projecto, surpreendíamo-nos com o caminho que tomou e o sucesso que alcançou, prova de que fazia falta um espaço que olhasse para a Genealogia como uma ciência inclusiva, ao alcance de todos.
No início, em 2014, este projecto destinava-se a concretizar apenas uma tarefa: criar uma
base de dados que reunisse a informação que constava já no Arquivo Distrital de Braga sobre processos de Inquirição de Genere desse arcebispado, mas sem digitalização, à documentação disponibilizada em linha pelo FamilySearch que, por outro lado, não possuía qualquer descrição. Este desencontro entre o material físico e a indexação dificultava imenso a pesquisa. Desafio lançado, a tarefa era hercúlea, mas fomos encontrando caminhos e contornando obstáculos. Contámos também com a ajuda de diversos amigos. Perante a aceitação que teve, compreendemos que era necessário fazer mais.
Era necessário um acesso mais “democrático” à documentação, em horários compatíveis com a actividade profissional dos que se dedicam a esta ciência no seu tempo livre. O resto viria naturalmente, com a ajuda dos muitos genealogistas, amadores e profissionais, historiadores, investigadores, profissionais dos arquivos… enfim, da comunidade tão diversa que se foi reunindo em torno desta aventura.
Outros trabalhos foram surgindo, de onde se destacam as bases de dados relativas a
cristãos-novos e aos boletins dos combatentes do
Corpo Expedicionário Português, que tantos genealogistas e investigadores têm procurado e utilizado nos seus próprios projectos, sem esquecer os diversos tipos de indexação e divulgação que fomos fazendo ao longo destes anos.
Foram muitas horas diárias de trabalho em conjunto, executando projectos que fomos publicando aqui, já pensando nos próximos, a que não faltou uma boa dose de humor e encorajamento mútuo. Reunidas nos bastidores do
grupo do Facebook associado a este blogue, empenhámos-nos também em criar e manter uma comunidade de entreajuda num ambiente afável e agradável, nunca descurando a sua moderação porque tudo era decidido entre as três, em equipa. Aí fomos desenvolvendo uma grande amizade, conversando também sobre nós, as nossas vidas... como foram bons esses momentos, que felicidade podermos tê-los vivido com a Manuela!
Foram também muitas as frustrações que sentimos perante a incompreensão e atavismo de algumas entidades que não entendiam o interesse do cidadão comum pela sua história de família. Nada que fizesse a Manuela baixar os braços. Contactou arquivos, câmaras municipais, escolas e universidades, pedindo mais acesso à documentação, contrapondo o interesse de dezenas de milhar de interessados nesse património, mas dele excluídos devido à ausência de digitalização.
Empenhou-se na divulgação de todo o tipo de fontes, prestando um serviço, não só a nós, genealogistas amadores, assim como profissionais, mas também às próprias instituições que viram o seu património documental valorizado por um público mais alargado. Trouxe-nos, inclusive, fontes desconhecidas do público de que é exemplo o
lançamento da décima.
Encorajou a pesquisa séculos afora até às raízes medievais, através da partilha da sua própria aventura nesse tipo de fontes e daquilo que foi descobrindo. Apoiou também iniciativas individuais de muito mérito, como é o caso do
tombo.pt.
Muitos recordarão a Manuela pelo seu incansável gosto em partilhar o seu conhecimento, apontando os caminhos correctos, distinguindo ciência de mitologia, e pela ajuda desinteressada que prestou à comunidade, aqui e no grupo do Facebook. Nós recordamo-la por isso tudo, mas sobretudo pela amizade que fomos construindo ao longo dos anos.
Habituámo-nos a tê-la sempre connosco e é assim que continuará para nós, parte inseparável deste projecto que continua, como sempre foi o seu desejo.
Obrigada por tudo. Descanse em paz, Manuela.
Paula e Maria do Céu
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