23 de março de 2015
23 de março de 2015 por Maria do Céu Barros
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Nº 3
Francisco José foi baptizado em S. Cosme Damião, "sem ser solenemente". Em 20 de Março de 1716, o vigário de S. Torcato, João do Vale Peixoto, autor de outro assento já publicado nesta série, dá-nos nota desse baptismo, num registo trágico-cómico que abaixo se transcreve em formato actualizado, para maior facilidade de leitura.
Eu, João do Vale Peixoto, vigário deste mosteiro de S. Torcato, declaro neste termo o que sucedeu que sendo minha freguesa Domingas solteira, filha de Francisco Fernandes por alcunha o Lameto, e de sua mulher Catarina Mendes, já defuntos, do lugar da Corredoura desta freguesia de S. Torcato, esta Domingas assim nomeada, tendo-se mudado [há] quase três meses para a freguesia de São Cosme Damião da Lobeira sem se ir dar ao rol ao dito Vigário de São Cosme de Damião, ao qual se chama Bento Vieira, nem tão pouco se deu ao rol na septuagésima em como queria ser freguesa na dita freguesia de São Cosme, mas antes publicava que assim como parisse que havia de ir ser criada de uma freira e que a criança haviam de enjeitar, a qual Domingas se foi meter até parir em casa de Mariana solteira do lugar da Corredoura da freguesia de São Cosme Damião e assim que pariu, foi a dita Mariana solteira dar recado da parte de António da Cunha Souto-Maior ao Reverendo vigário que lhe havia de fazer mercê de baptizar um menino, ao que o Reverendo Vigário deu por resposta à dita Mariana que levando licença do Vigário de São Torcato o faria com muito boa vontade. À vista disto, sem mais nem esperar pela hora que lhe tinha posto, se foi o dito António da Cunha meter-se na igreja, e vindo o Reverendo vigário de fora, achou as portas abertas; perguntando o Reverendo ao seu criado quem abrira as portas, lhe respondeu estava lá António da Cunha com um baptizado. Nestes termos se foi o Reverendo vigário à Igreja e perguntando-lhe ao dito António da Cunha que ordenara seu serviço, e pedindo-lhe o sobredito lhe baptizasse aquele menino, lhe respondeu o dito vigário o não podia fazer solenemente sem minha licença; nestes termos começou o dito António da Cunha a tomar testemunhas que se a criança morresse o Vigário o havia de pagar, e vendo João de Oliveira o dito António da Cunha todo furioso e com palavras desentoadas, disse João de Oliveira, sapateiro, homem casado do lugar da Corredoura, que se não agastasse que ele me viria pedir licença para o dito vigário o baptizar solenemente; ao que o dito António da Cunha lhe respondeu que não queria licença minha nem ver-me dos olhos e que o vigário de São Cosme e o vigário de São Torcato lho haviam de pagar bem pago; e como o dito vigário viu que o dito António da Cunha tomava testemunhas, se sucedesse morresse a criança que o vigário o havia de pagar, nestes termos, pediu o Reverendo vigário a João d'Oliveira que estava presente e sua mulher Margarida Fernandes, ambos meus fregueses do lugar da Corredoura, fosse buscar um púcaro de água e logo o Reverendo vigário o baptizou sem ser solenemente; e lhe declarou o Reverendo vigário diante das ditas testemunhas acima nomeadas, João Oliveira e sua mulher Margarida Fernandes, a qual era ama de leite, moradores no lugar da Corredoura, que trouxessem o menino à minha igreja para lhe pôr os Santos Óleos e exorcismos e, à vista disto, começou o dito António da Cunha, estando na porta principal da Igreja, a chamar ao Reverendo vigário vilão ruim e que tinha cara de vilão ruim, ao que o Reverendo vigário lhe repetiu humildemente que era tão honrado como ele; tornou-lhe a repetir o dito António da Cunha que lhe esmagaria os narizes, ao que o Reverendo vigário lhe respondeu não faria; nestes termos o investiu, ao que João de Oliveira se meteu no meio, mas sempre lhe deu uma punhada em um ouvido do que o Reverendo vigário foi dar parte com sua informação ao muito Reverendo senhor Doutor vigário geral Manuel Carneiro de Lima, cuja informação mandou o dito senhor entregar ao muito licenciado senhor promotor João Martins Guerra e, pedindo-lhe o Reverendo vigário certidão de sua queixa, lhe disse não era necessária.
Até hoje vão vinte de Março se não tem tomado conhecimento algum de todo o sobredito, declaro que ao menino lhe pus o nome, a pedido do dito António da Cunha, Francisco José, e declaro mais: que o dito António da Cunha na primeira dominga da Quaresma, estando o Reverendo vigário à estação, lhe perguntou o dito António da Cunha publicamente se estava o menino bem baptizado, ao que ele respondeu que estava, somente lhe faltavam os santos óleos e exorcismos e que me trouxessem à minha Igreja na forma da Constituição para eu lhos pôr; e logo por levar a sua avante disse para o Reverendo vigário que se trouxesse licença de Braga se lhos havia de pôr, ao que o Reverendo lhe respondeu que se trouxesse licença do seu prelado lhos poria, mas até hoje vão vinte de Março de mil setecentos e dezasseis, e declaro mais: que na segunda dominga da quaresma em que se contaram 8 de Março, na estação da minha missa conventual, mandei por João Francisco ferreiro e João de Oliveira e Manuel Francisco, todos do lugar da Corredoura, meus fregueses, que fossem dizer à dita Domingas que se queria ser minha freguesa que eu tinha dado licença ao dito Reverendo vigário para pôr os santos óleos ao dito seu filho, e se queria lá em S. Cosme ser freguesa que se fosse dar ao rol dos confessados; mas todas estas invenções foram feitas a fim de não ficarem nesta visita de São Torcato e até hoje, vão vinte de Março, não tem posto os santos óleos, nem em São Cosme nem nesta paróquia, e por verdade fiz este termo; Era, dia, mês, hoje vinte de Março de mil setecentos e dezasseis anos.
O Vigário João do Vale Peixoto
A transcrição do original foi publicada no artigo da autoria de Rui Faria, «Um olhar sobre os registos paroquiais de São Torcato – Uma Crítica de Fonte –», Boletim de Trabalhos Históricos Série II. Vol. XVIII 2007/08, Arquivo Municipal Alfredo Pimenta, Guimarães.
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